quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

"O TEMPO PASSOU E ME FORMEI EM SOLIDÃO"

     Final de Ano...Natal...Ano Novo...Época de refletirmos sobre o que passou, sobre o que virá...não para ficarmos pensando no que teria sido se tivéssemos feito o que fizemos de maneira diferente, não para ficarmos sonhando com o impossível, mas para termos efetivamente os pés no chão e colocar em prática o que aprendemos com nossos erros e acertos...para sonharmos com o possível e fazermos esse possível acontecer.
Sei que hoje muitas coisas mudaram, muitos valores bons se perderam ou estão se perdendo, mas eu ainda acredito no ser humano e na sua capacidade de transformação e de que um dia tenhamos nossos olhares voltados para o que é bom, belo e verdadeiro na vida.
     Quero postar hoje uma mensagem de  José Antônio Oliveira de Resende (Professor de Prática de Ensino de Língua Portuguesa, do Departamento de Letras, Artes e Cultura, da Universidade Federal de São João del-Rei/MG), mas como já escrevi não para ficarmos pensando no que foi, mas como uma mensagem para repensarmos nossa vivência e transformá-la em uma vivência de auxílio ao outro. Um olhar diferente para nossos amigos, vizinhos e principalmente para nossa família, pois tenho visto viúvas de maridos vivos, viúvos de esposas vivas, órfãos de pai e/ou mãe vivos. Bons amigos que não lembramos mais, não conversamos mais...A solidão em si não é ruim se você convive bem com ela, e se ela não te transforma numa pessoa sozinha, mas a solidão a dois, a três, em família, com certeza deve  doer ffundo na alma. Espero que você leia o texto com muita atenção e pense que solidão existe, mas necessariamente você não precisa estar sozinho...olhe ao seu redor e doe um pouco da sua presença e afeto ao outro. Não se torne um graduado em solidão!
UM FELIZ E ABENÇOADO NATAL A TODOS E TODAS, COM MUITAS BENÇÃOS DE DEUS PARA SUA FAMÍLIA!
FORÇA, FÉ E ALEGRIA!!!!!!!!!!!!!!!!

"O TEMPO PASSOU E ME FORMEI EM SOLIDÃO" 

Imagem disponível em: http://www.google.com.br/images?hl=pt-br&biw=1024&bih=584&gbv=2&tbs=isch:1&aq=f&aqi=&oq=&gs_rfai=&q=mesa%20com%20caf%C3%A9,%20p%C3%A3es,%20doces

     Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho porque a família toda iria visitar algum conhecido. 
Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, à noite.
     Ninguém avisava nada, o costume era chegar de paraquedas mesmo. E os donos da casa recebiam alegres as visitas. Aos poucos, os moradores iam se apresentando, um por um.
     - Olha o compadre aqui, garoto! Cumprimenta a comadre.
     E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minha mão e a mão dos meus irmãos. Aí chegava outro menino. Repetia-se toda a diplomacia.
    - Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável!
     A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando- nos e olhando a casa do tal compadre.   
     Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro... casa singela e acolhedora. A nossa também era assim. 
    Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras.      
      Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo, surgia alguém lá da cozinha - geralmente uma das filhas - e dizia:
      - Gente, vem aqui pra dentro que o café está na mesa.
      Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte:
      Pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite... Tudo sobre a mesa.
     Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também. Pra que televisão? Pra que rua? Pra que droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança... Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam... Era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade...
     Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida. Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa. A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, também ficávamos a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos... Até que sumissem no horizonte da noite.
     O tempo passou e me formei em solidão. Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail... Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa:
     - Vamos marcar uma saída!... - ninguém quer entrar mais.
    Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores.
     Casas trancadas. Pra que abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos do leite...
     Que saudade do compadre e da comadre!
 imagem disponível em:
http://www.google.com.br/images?hl=pt-br&source=imghp&biw=1024&bih=584&q=pessoas+ao+redor+da+mesa&gbv=2&aq=f&aqi=&aql=&oq=&gs_rfai=